Thursday, July 08, 2010

Hoje sou um nada... Hoje sou um nada, mas ontem era um vazio. Ontem era todo um ser em torno de um vazio que se agarrava perdidamente às memórias de uma vida não vivida, mas muito sonhada. Mas era um daqueles vazios que doiem. Um daqueles vazios tão grandes que esticam a pele de tal forma que não conseguia sequer respirar.
Porém o desespero esticou-me todo e...rebentei. Não quero ajuda. Não quero que ninguém me toque... tenho medo que me arranjem cedo demais. Quero esvaziar tudo. Quero voltar a ser uma pessoa sem essa dor... sem esse vazio. Quero fazer-me de inteirismos e voltar rapidamente a sonhar. Não quero ninguém... Quero gastar-me por completo. De pensamentos e de recordações. Trabalho. Trabalho e sinto a doce bebedeira do cansaço e aí sei que consigo dormir. Dormir só. Sei que acordo em poucas horas porque o vazio exterior se faz sentir na pele. Mas não faz mal. Amanhã...há de ser outro dia.
Não quero ninguém nem socorro para esta minha rebentação. Não se importem com os meus excedentes sanguíneos e lacrimais... e os sons? São gritos do avesso soltos por esse espaço rebentado. Mas não se aproximem... Não faz mal... Eu vou levantar-me. Sem sermões...sem apoios... cada vez que chamam o meu nome... eu sei o que tenho de fazer... mas não me toquem... deixem-me esvaziar por completo... quero reconstruir-me de outras matérias... Não quero ter mais recaídas em promessas apenas faladas...
Ontem era vazio. Hoje nada. Amanhã voltarei a ser original. Sem mais ideias de junções... não voltarei nunca a ser metade. Serei por inteiro. Só assim viverei: POR INTEIRO!!!

6 comments:

Anonymous said...

Sei como é. Já estive assim. E todos os dias penso que posso a qualquer momento voltar a estar. Rasgada,destripada,exangue. Fácil de perceber porquê.Difícil, difícil é compreender que não aconteça, que o riso se solte, os olhos se maravilhem, as mãos se encham de terra e de cor e as pernas sejam asas que me tornam tão leve o voo.Aceito. Não sei compreender mas aceito. Que um dia te aconteça a ti.

Shambhala said...

Agradeço as palavras, cara anónima!
Mas ao tentar aceitar o que não se compreende, por vezes nos faz perder entre mil sentimentos não desejados. Sentir... Essa eterna condição do viver! :)

Anonymous said...

Como aceitar sem nos perdermos, pelo menos por algum tempo,a injustiça, a doença, a morte? Não nos prometeram a felicidade se não provocassemos os deuses? Compreender?Mas como se há tantas compreensões? A compreende o que B sente, B compreende que A não está sentir o que B compreendeu, C compreende que A e B estão a compreender mal o que C compreende tão bem,D...
Tenho fome, tenho sono,sinto raiva,sinto zanga, tenho amigos, tenho amor, tenho, sinto. Tou viva, tás viva.Tou aqui, tás aí.

Anonymous said...

POETRY CAN BE THE ROPE

Poetry can be the rope
Thrown at those of us
Drowning without hope,
Quietly, with no fuss,
Just looking at the shore,
Resigned to live no more.

Grab the rope
Teach her hope
Remember the lines
Sing the rhymes,
Tell her not to cry
Kiss her tears dry

Give
Forgive
Endure the pain
Cherish the empathy
Swim to safety
And learn to live
Again

Shambhala said...

Aceitar a incompreensão é viver conformado. Eu vivo em desconforme desconforto de desesperança. Mas é só até amanhã. Amanhã: Já é outro dia!
Não aceito, aceitando que haja quem se aceite assim. Mas em mim, enquanto ser escrevinhante, arrasto a doce a ilusão que me embala neste espapassar de tempo... Porque enquanto tentamos compreender o mundo, se vive realmente nele. Aceitando... passamos a viver em nós: em objectivos, em medos, em defesas... e o mundo lá fora perde o seu encanto! No fundo: AINDA BEM QUE NÃO COMPREENDO!! Ainda bem que acordo todos os dias sem aceitar..porque na busca interminável da compreensão co-aprendo!!

Shambhala said...

" (...) Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...(...)" - Alberto Caeiro, in- Guardador de Rebanhos

AHAHHAAHHAHHAH!!!